quinta-feira, julho 31, 2008

Photo to the Siren


Sempre fui apaixonado por fotografia. Mas nunca tive o mínimo jeito. O mesmo se passa com Banda Desenhada e o jeito para o desenho: Zero. Por isso sempre fui e serei um admirador do meu "mano" Filipe e do seu dom incrível para o desenho. Mas hoje, sozinho em casa, sem internet, senti-me um bocado desorientado mas de repente decidi brincar com a máquina fotográfica e com aquela espécie de lanterna que temos aqui em casa para iluminar o terraço à noite. E lembrei-me da coreografia do David Fonseca quando canta a fabulosa "Song to the Siren" e decidi tentar fazer algo parecido no hall de entrada da minha casa. Não sou o David, nem tenho o charme que elas dizem que o senhor tem. Sou apenas um parvo que tenta conseguir fazer algo de jeito nesta vida...

quarta-feira, julho 30, 2008

"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas.Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber.
Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.
Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e é mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.
O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática.
O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.
Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, banançides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra.
O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos.
Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.
Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo.
O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. é uma questão de azar.
O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra.
A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina.
O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima.
O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente.
O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.
O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessýria. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.
O amor é uma coisa, a vida é outra.
A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.
Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra.
A vida dura a Vida inteira, o amor não.
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

Miguel Esteves Cardoso in Expresso

Ao meu encontro na estrada


"All of these lines across my face Tell you the story of who I am" canta a Brandi Carlile enquanto escrevo este texto. Não vou fazer uma apologia do amor aqui, muito menos um elogio da loucura que possa sentir neste momento. Ao longo dos anos de vida li e vi muita coisa. Relembro com alguma nostalgia a parte inicial da "Aparição": "Sento-me nesta cadeira vazia e relembro..." era assim que começava e é assim que por vezes somos lançados para o passado, para o tempo do walkman, para o tempo em que os colegas iam todos ao bar e eu, mergulhado na minha melancolia e drama, ficava sentado na minha mesa, com o meu walkman a ouvir aquelas músicas que acabam com qualquer um, mas que inexplicavelmente procuramos sempre ouvir quando estamos mal. Há uma clara tendência para o abismo em algumas pessoas e eu não sei se por vezes não serei uma delas. Por baixo da "máscara" do parvo, do bem-disposto, do bem-humorado, esconde-se uma figura deprimida, atingida por disparos de várias direcções que têm capacidade para derrubar qualquer um...eu tento não ser qualquer um e sair do meio desta "batalha" onde ando agora, como já saí de tantas outras, ferido mas em pé e a fazer uma força enorme para levantar a cabeça, mas vivo...
Na vida somos enganados, iludidos, feitos de parvo, traídos mas também fazemos muita coisa errada. Afinal, porque andaríamos aqui se fosse para fazer tudo bem? O problema é quando tentamos fazer bem e não somos entendidos nisso, quando tentamos plantar "a flôr de mármore no deserto" que me tem acompanhado ao longo da vida e ela se parte em mil bocados...estilhaçando naquela pedra, algo que tenha sido construído durante muito tempo, mesmo que de forma menos certa. Há alturas onde a vontade é de ter um "Reset" na nossa cabeça e apanhar um sinal novo de vida...ou simplemente desaparecer, deixando a dôr para trás e enganando-a nos caminhos da "Terra dos Sonhos onde podes ser quem tu quiseres e ninguém te leva a mal". Bater com a cabeça, mesmo que isso por vezes seja uma lição para outros, não é saudável. Mas é parte do "jogo"...vou continuar aqui, "no intervalo da aula de matemática" com o meu walkman a pensar nos jogos que perdi, na vida que não vivi, nas pessoas que conheci e que secalhar não devia ter conhecido, nas músicas que me perseguem e naquelas que me seguem, no amor que tem "mãos de bailarina e lábios de silêncio". A pensar em todos os que vieram ao meu encontro na estrada, que me fizeram acelerar, que me fizeram abrandar, que fizeram parar, fugir, quase despistar, quase parar. A pensar naqueles que disseram que vinham e não chegaram, naqueles que não disseram que vinham e apareceram, naquele cenário que não é meu mas onde eu ando. Cá vou ficar...porque não há outra forma...ou há? Enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar...


"Mas que grande idiota...voltei a perder..."

Disseste que vinhas
E não chegaste
Mudaste de planos, ok

Mas isso deitou-me tão abaixo
Espero que tenhas pensado bem
Estou triste que só eu sei
Preciso de alguém

Chaminés pretas deslizam
Nas janelas de mais um comboio
Casas e pessoas
Feias árvores falidas
E um céu angustiado
Tal é o meu quadro
Estou bem chateado

E agora toca a arranjar o buraco
Que eu tenho no coração
Vou mudar de cenário
Que a coisa assim está mal parada
Vou procurar calor
Mudar de estação

Há-de vir alguém
Ao meu encontro na estrada

Pensei tanto em ti
Que não calculas
De manhã, à tarde e ao anoitecer

Andava louco de contente
Só com a ideia de te voltar a ver
Ahh, mas que grande idiota
Voltei a perder

Procuro no fumo e no vinho
A forma de chegar depressa à fronteira
Mas sei muito bem que a dor que sinto no peito
Não vai com a bebedeira
Pus-me a voar a cair
Da pior maneira

E agora toca a arranjar o buraco
Que eu tenho no coração
Vou mudar de cenário
Que a coisa assim está mal parada
Vou procurar calor
Mudar de estação

Há-de vir alguém
Ao meu encontro na estrada
Há-de vir alguém
Ao meu encontro na estrada

Jorge Palma - Ao meu encontro na estrada

terça-feira, julho 29, 2008

Alma

Os meus amigos Duarte e Ana Catarina vão casar. Vão casar mas em separado, cada um com o seu noivo(a), não é um com o outro. São duas pessoas especiais para mim, que apesar da distância temporal que os nossos encontros têm, prezo na categoria de grandes amigos. Não são daqueles que preciso ver várias vezes para sentir o quanto somos amigos. Somos velhos amigos e pronto. Cada vez que um amigo agora me anuncia que vai casar, sinto-me diferente. Não porque me faça repensar na minha escolha sobre isso, mas porque vejo os amigos "partirem" para longe de mim mais um bocadinho. É como se fossem abandonando a ilha imaginária onde secalhar vivo, mas felizes por irem para uma vida nova.
Cada vez que vou a um casamento sinto-me estranho. A cerimónia não me cria emoções ( o que é que cria hoje em dia...?) e, peço desculpa por este desabafo, mas cada casamento faz-me sempre ficar ainda mais satisfeito pela ideia de não casar. Aqueles rituais, o ser mais um entre iguais, faz-me sentir mal. Respeito quem o faz claro! Mas seria incapaz de fazer aquele papel num filme tão visto.

Neste momento em que vos escrevo - são 20:09 de Terça-Feira - está ainda calor lá fora. O verão faz-me mal. Sempre que o verão acaba, é uma vitória para mim. Sinto que fui poupado mais um ano e que ainda cá estarei para com as minhas poucas forças, fazer frente a mais tardes de 40 graus...
No post anterior, coloquei um poema do Cesariny. Desde pequeno que me habituei ao seu nome, visto que vivia na minha rua. Sempre ouvir falar do pintor/poeta, que vivia alguns prédios abaixo e que raramente saía de casa. Lembro-me que em certa fase da minha vida, achava que o meu futuro iria ser como o dele: Em casa, sem sair e de certeza a viver com os fantasmas do passado, do presente e talvez do futuro. Passados vários anos, Césariny morreu. Mas não devia. Há pessoas que não deviam morrer, porque aquilo que fazem é um atalho por nós aproveitado para fugir ao que a realidade nos dá. E quando elas desaparecem, fazem-nos sentir algo perdidos...atrapalhados...deslocados...

É engraçado perceber como a tristeza é mais unificadora que a alegria. Nos dias que correm, fazer algo para estar bem e rir é quase impossível. Mas para chorar ou lamentar, lá estamos todos...world is a strange place isnt'it?

poema



poema

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny

domingo, julho 20, 2008

Giro

Cheira-me que vem aí uma coisa estupidologicamente falando...parva. Mas, secalhar vai ser, vá lá, parva mesmo. Mas gira! É ficarem atentos...

sexta-feira, julho 18, 2008

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente-
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

This how my heart behaves

Apetece-me justificar a escolha da música que começa a dar quando entram neste espaço. A justificação é curta e simples: Faz-me bem...só isso...

sexta-feira, julho 04, 2008

To someone...

...não afastes os teus olhos dos meus...